terça-feira, 22 de setembro de 2009

Vendas em alto relevo.

Quando foi que apagaram as luzes
E descolaram-se as retinas?
E pro seu filho que nasce daqui a vinte dias
O que você vai dizer quando ele perguntar
Qual é a cor do dia lá fora, agora?
Qual é a cor do dia, Mãe?
Você escolhe o tato do enxoval
E o Azul é por conta do costume.
Você vai ensiná-lo a não largar os brinquedos espalhados
E quando ele crescer vai lembrá-lo de nunca mudar os móveis de lugar.
Pois você já gravou todos os caminhos da casa.
Dói, e ainda mais pra você, Mulher, que não nasceu cega,
que já sentiu o brilho de todas as cores.
E falando em cores, não sei se por ironia,
já te contaram que seu filho virou pintor, Moça?
Ouvi dizer que na última tela ele pintou um teatro,
com expressões de paz e todos os atores estão vendados.
Assim como você.
O teatro tem o brilho de todas as cores
e elas fazem questão de estar em alto relevo
pra que você possa tocar, fazer parte do espetáculo
e se tornar a cor chave,
de um Teatro de Tintas.

sábado, 19 de setembro de 2009

Na parede da minha sala, uma face talhada.

São tantas coisas
que separam o viver do existir,
o som estranho da lira
e o medo de se iludir.
Na madeira, talhada,
a face moldada por um artesão,
a barba falhada e a mão por entre os panos
no coração

É como se tudo terminasse ali,
por baixo dos panos,
É como se a vida começasse aqui
quando eu te chamo.

Vem ver de perto até aonde os olhos podem ir
e mostra pra eles
tudo o que eu te ensinei a fingir.
Vem e fingi as lágrimas da paixão,
traz certo ou ao avesso
o seu coração.

As cordas da harpa são tantas
que um dia ainda vão te confundir
os caminhos dos rios são tortos
e essa água nada lava da alma.
O jeito mais sem jeito de rir, a maneira mais dolorosa de ir.

E como se tudo não passasse de um sonho,
de medo do escuro ao amor mais estranho.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Era de criança.

Como na idade em que, sentado, seus pés não tocavam o chão.
Quando tudo parecia gigante diante de você.
Vai dizer que não se sente leve ao lembrar?
E nas vezes em que errava o laço do cadarço?
Era engracado.
Acho que o que mais faz falta são os olhares.
Era de um brilho tão intenso.
Preste atenção em uma criança na rua
quando ela se depara com algo repleto de cores
como seus olhos brilham de curiosidade e encanto.
E os "por quês" intermináveis ?
Pra tudo havia de ter um porque.
E os "por quês" são infinitos até a hora em que alguém sai do sério,
ou que os "por quês" começam a ficar um tanto sérios.
E pra onde vai a inocência?
Ela vai aos poucos e não se tem muito o que explicar.
E depois de um tempo nos arrependemos do tanto
que sonhamos em sermos "grandes".