quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Sistema Circulatório."


Eu navego, pois não me resta outra saída

E mesmo que a correnteza desse rio diga pra onde vai a minha vida

Faço questão de não estar à deriva.

Corto a corda

Estico a vela

Acerto o prumo

E a bombordo aceleram os batimentos por minuto.

Não tem rota de colisão.

É um caminho de volta e outro de ida

Não há atalho, desvio ou contrapartida.

E a pressão aumenta,

Quando a porta estreita a saída.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

"Só vale o que perpetua.''


Um dia alguém vai escrever
Contando os atos mais heróicos do mundo,
E o que você tem pra se defender ?
O que será que vão dizer
Quando não lerem suas histórias por aqui?

- "Foi descaso do autor",
ou
- "Como um herói guarda tanto rancor?"

Não culpe o autor pela sua biografia
Ninguém entregou os pontos
Ninguém entortou as linhas
É só você que perde os próprios passos
E põe a culpa no acaso pra se aliviar.
Pôde correr solto demais,
E ainda assim
Teve medo de se afastar do Cais.

domingo, 18 de julho de 2010

"Uma rápida visita."


Quem sabe na sorte de um dia qualquer
eu arrume tudo aqui por dentro
e deixo a porta aberta?
Então, entre.
Fique à vontade,
não precisa tirar o sapato.
Sente, sinta-se em casa,
pode mudar meus quadros de lugar.
Não repare, deixei algumas coisas por arrumar.
É que a última que passou por aqui
deixou os armários bagunçados e as paredes por pintar.
Eu penso em tons de verde pra elas. O que acha?
Azul? Vou misturar, veremos no que dá.
Está gostando?
Sua visita é agradável.
Ei! Vá com calma ai. Tem "coisas de quebrar".
Se ficar por mais tempo vai conhecer alguns detalhes.
Vai ver que as paredes vão ficar de verde sim,
e que eu posso até arrumar os armários,
mas as portas continuarão abertas.
Vai descobrir que eu não arrumo certas coisas
porque tenho medo de me achar onde não imaginei estar.
Quem sabe você se acostume e acabe gostando do meu travesseiro?
Quem sabe em um acaso, um desvio, um tropeço, eu faça, mesmo com todo o meu desleixo,
o quadro mais belo pra te encantar.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

"Mútuo."



Chegar na hora certa, não do relógio, da vida.
Espero que me prenda livre,
que fique por querer, não por ter.
Que o carinho seja mútuo
mas que não seja cobrado.
Que o passo seja firme
mesmo sobre navalhas.

"Se é pra vir, que venha logo. Se é pra irmos, não me apresse, ajustar o tempo pode gerar um furação."

sábado, 10 de abril de 2010

"Notas; 1"


Por exemplo: queimar uma bandeira. É assassinato; Não derrama sangue, não tortura mas mata, fere. Por exemplo: a foto da morte. Um corpo deitado no caixão não é a foto da morte é a do enterro; A foto do momento exato do ocorrido não é a foto da morte é a prova crime. A foto da morte ninguém tem. É a foto do vazio; Da cama vazia, do guarda roupa intacto, do lugar vazio na mesa de jantar.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

"Da porta pra dentro."



Sentiu dormiu
Deixou porta, cama, TV
As contas do final do mês
E sua volta deixou um talvez
Dúvida, dívida
Acordou e o velho monstro ainda estava ali
O rojão esperava lá, tão longe
Com o sol insaciável de manhã
Pra matar seu nome
É preciso muito mais que dor
É preciso ser mais que infame
O seu trunfo é ser sonhador
E o que o assusta é sonhar tão grande

Se atrasou pra mais um dia que não lhe convém
Para um bom café da manhã não tem tempo
Pra se sentir vivo outra vez
Através da janela sente o vento lhe convencer
Mesmo que machuque é melhor deixar bater
A sua escolha foge do tom
Das nuvens cinzas que a chuva traz
E a tempestade é por dentro e não vil
É o que acanha esse bom rapaz
Largou livro, papéis, jornais
Trouxe só o que não se pode separar
Deixar si mesmo
Deixou porta, cama, TV
Sentiu dormiu

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

"Coisas Soltas de uma Vida Só."


Um rádio
Um porta-retrato
Uma carta que vem lá do Sul
Com um beijo marcado
Alguma coisa que engrandeça a vida
Tudo o que te tira o sono
Que te causa ferida

Um riso frouxo
Um tiro no alvo
Uma reza que preze por tudo que pode ser salvo
O Amanhã é sempre um novo dia
E a paixão que acaba hoje
Amanhã já não valia

Nenhum vento tem a audácia de não levar a duna
Nenhum tiro tem razão
Mesmo na alma mais impura
O movimento contrário
De um relógio quebrado
Até pra disciplina é preciso loucura

Um riso frouxo
Um tiro no Alvo
Uma reza que preze por tudo que pode ser salvo
O Amanhã é sempre um novo dia
E a paixão que acaba hoje
Amanhã já não valia

E é a cabeça que confunde os fatos
E aquele que julga só ouviu relatos.
Foi o rato que roeu a roupa
Ou foi a vida do Rei
Que passou tão solta?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

"Tudo que vai."


Hoje vou fugir das cartas, dos plugins que tiram chiados e das edições. Tudo o que eu disser aqui pode ser pura mentira.
Hoje uns amigos vieram aqui depois do ensaio, tomamos umas cervejas e conversamos um pouco. Um deles entrou no assunto de balões, não me lembro o porque, e começou a descrever o trabalho enorme que era pra fazer e as aventuras para resgatar os mesmos. Logo achei a maior idiotice soltar balões, e ele descrevia aquilo com a maior felicidade, dois minutos de atenção para a felicidade dele e pude ver um outro lado. Eu sou um egoísta de primeira, acho que todo o meu trabalho tem que ser para o meu enriquecimento e de nada me vale tanto esforço se em seguida isso irá pra longe e eu ainda terei de gastar mais energia para trazê-lo de volta. Os balões são como os filhos, são feitos para o mundo, de que vale um balão no chão sem que esteja prestes a cortar os sacos de areia?