"Nota: Sobre o que o Vento traz."

"De tão teimoso que era o vento que passou por aqui, que mesmo trancafiado foi impossível não sentir. Levantou pano, bateu porta, tirou as folhas do lugar, fez frio pelas frestas, trouxe uma duna pro meu quintal.

E o pouco que levou, trouxe um tanto pouco de outro lugar, um cheiro forte de café, de aconchego, cama e lar. E eu de tanto só que sou, implorei pro mais um sopro."

"Nota: Sobre o próximo passo."

" - Fica parada aí! É por questão de segurança. Porque mais um passo e o seu cheiro começa a me tomar. Porque mais um passo e sua mão já alcança a minha nuca. Porque mais um passo e os seus olhos viram imãs. Porque mais um passo e eu não respondo por mim, sou só coração."

"Nota: sobre saudade;"

Não gosto de contar o tempo. Especialmente quando é o tempo da saudade. No começo vale, ela tem vigor e só faz aumentar o prazer da volta. Mas tem prazo de validade. Um ponto de máximo. E a partir daí o tempo da saudade maltrata. Vem um aperto sem explicação. Tenho a sensação de que envelheço mais rápido. E ela envelhece junto, até o final.

Mas, Saudade boa é saudade morta, não de velhice, de morte matada mesmo. Ela morre asfixiada pelo abraço. Morre de inveja do beijo. Mas assim que você vai, ela volta toda manhosa. E eu, na falta de um colo, me afogo.